ouve a
necessidade de criarmos este capítulo a fim de dar esclarecimento a uma
série de equívocos que vem sendo cometidos em função dessa palavra (amor),
muito especialmente quando vem relacionada com Magia.
Os meus leitores ficarão chocados com certas declarações que farei aqui mas
tal se faz necessário porque muitos leigos praticantes estão prestando
informações equivocadas e isso tende a confundir as pessoas mais do que já
estão.
Uma das piores coisas que podem acontecer é surgirem leigos e profanos que não
fazem idéia do que estão falando mas que se põe a explicar coisas.
Pessoas que não tem noção do que seja um Mago começam a escrever idiotices
do tipo "o mago é amoroso" , "a Magia é o uso do amor" ,
"amor e Magia são uma mesma coisa", etc.
Vamos esclarecer algumas coisas. Inicialmente, o meu leitor deve saber que
os Iniciados das Ordens Ancestrais tem de fazer renúncias. Fique claro
que a vida sacerdotal do Mago exigiu dele um preço muito alto, justamente para
que os aventureiros e outros desse jaez fossem desestimulados.
Os Magos não tem envolvimento amoroso com alguém. Os Magos tiveram de
renunciar a esses envolvimentos e sentimentalismos que estabelecem ligações
com uma pessoa em particular. Magos não se apaixonam.
Pode parecer chocante mas é assim que essas coisas acontecem. O Mago
renunciou a certas coisas que foram consideradas mundanidades, e entre elas
está a pior de todas, uma doença chamada AMOR. Não se choque ainda,
leitor, que vem coisa pior por aí.
O amor, tal qual os profanos entendem, É uma doença, e grave.
Vamos começar analisando isso. Amor é um dos aspectos da Paixão, e
"paixão" tem duas derivações : do latim passione
e do grego pathos.
Esse passione é redundância, posto
que se trata daquilo que é passional, ou seja, que tem paixão. Mas o pathos
é muito significativo, porque pathos
significa doença. Daí vem
palavras como PATOLOGIA, PSICOPATA, etc. Ora, a patologia é o
estudo e analise das doenças e o psicopata é um doente mental. Não perca de
vista o fato de que isso se origina daquela palavrinha grega que também deu
origem à paixão, ou seja, a paixão e a doença são a mesma coisa, que tem a
mesma raiz.
Mas o amor é um grau acima de paixão e é muito pior. Na verdade não
há nada mais destrutivo do que esse amor que é do agrado dos profanos. Muito
especialmente porque para eles o amor e a sensualidade são inseparáveis, e por
amor eles fazem qualquer coisa, inclusive matar a pessoa amada, daí o
nome crime passional. A doença
do amor virou figura jurídica, onde você pode usá-la para explicar as razões
de ter matado alguém : "matei por amor" . Esse amor que os
profanos gostam tanto de falar tem um aspecto incrivelmente destrutivo, pessoas
matam e se matam em nome dessa dependência total que tem em relação a uma
outra pessoa.
A pessoa que está amando está alienada. Ela perde a noção das coisas e
até de si mesma.
Isto é uma doença na medida em que a pessoa que ama se anula em função da
outra, ou seja, ela passa a viver em função da pessoa amada. Anular a si mesmo
não é prova de amor, é uma atitude doentia. As pessoas cometem loucuras e
desatinos em nome disso a que chamam amor. Passam a viver suas vidas em função
de outra pessoa.
Amor não precisa ser correspondido pois uma pessoa pode amar a outra sem que
esta sequer o saiba. Quando esse amor não é correspondido ele tende a se
tornar obsessão, que para descambar para uma atitude criminosa é uma
facilidade.
Mesmo quando é correspondido o amor tende a criar problemas que não existiam.
Num primeiro momento ele se torna uma sensação de posse, pois o que ama se
julgará dono da pessoa amada. Isso gerará ciúme, insegurança, o que trará
sofrimento e até uma tragédia.
Um dia eu conversava com uma pessoa que me disse, textualmente, que uma das
coisas mais lindas do mundo era chorar por amor. E eu respondi que para
mim aquilo seria é uma indignidade descabida, porque chorar por amor nada mais
é do que mendigar o afeto da outra pessoa, e mendigar o carinho de alguém faz
da pessoa um mendigo sentimental, algo abjeto.
As pessoas não nasceram unidas umas às outras, de maneira que uma pessoa não
precisa depender da outra.
Essa mania que as pessoas tem de ficarem se unindo em pares deve ser coisa que
vem dos tempos em que os seres humanos tinham que andar em duplas para enfrentar
perigos, caçar mamutes e fugir dos tigres dentes-de-sabre nas cavernas.
Agora cabe aqui um esclarecimento.
Os iniciados, especificamente os Magos, tem uma missão que envolve a
Humanidade, e é só por isso que ele não pode dispersar suas forças amando a
uma pessoa só pois ele tem o dever de amar a toda a Humanidade. É isso
que as pessoas não entendem ou não querem entender. Normalmente os
leigos praticantes (o pior tipo) ficam tentando entender a vida de um Mago
baseados em suas próprias vidas e acham absurdo que os Magos não possam se
apaixonar nem amar uma pessoa em especial. Tentam aplicar à vida do Mago os
mesmos valores que pautam suas próprias vidas e é aí que está o erro de
avaliação.
Por exemplo, nos escritos do grande mestre São João da Cruz essa situação
está muito bem explicada, e ele explana muito bem a razão de não se unir a
uma pessoa porque é preciso usar esse amor para amar a todos de igual maneira,
e não de forma diferenciada. A nós não caberia uma situação em que se
diria " eu amo a Humanidade, mas tambem amo a minha
esposa/noiva/namorada,etc." porque nesse caso o amor que se teria por
essa pessoa é maior e diferente do que se tem pela Humanidade, e as pessoas
enquanto criaturas do Poder Maior não são melhores que as outras para que
mereçam essa deferência especial.
São João da Cruz, na sua obra A Subida do Monte Carmelo, no capítulo XXIII,
parágrafo 1 explica isso :
" Muitos são os proveitos recebidos pela alma quando aparta o coração do gozo dos bens naturais. Esta abnegação, além de dispô-la para o amor divino e para todas as virtudes, produz diretamente a humildade consigo mesma e a caridade geral para com o próximo. Realmente, se a alma a ninguém se apega em particular, em vista das qualidades naturais e aparentes que são ilusórias, conserva-se pura e livre para amar racional e espiritualmente todos os homens, como Deus quer que sejam amados. Criatura alguma merece amor senão pela virtude que nela há. Amar desse modo é amar segundo a vontade de Deus e, além disso, com grande liberdade ; e se este amor nos liga à criatura, mais fortemente nos prende ao Criador. Porque, então, quanto mais cresce a caridade para com o próximo, mais também se dilata o amor de Deus ; reciprocamente, quanto maior é o amor de Deus, mais aumenta o do próximo. Assim acontece, porque tem esta caridade a mesma origem e a mesma razão, que é Deus. "
Do mesmo livro, no capítulo XXII, parágrafo 2 se lê :
" Quando se concentra a estima em algo, retira-se o coração do resto, por causa daquele apreço particular. "
O amor do Iniciado (o Mago) é pela Humanidade, é pela Criação e pelo Poder
Maior, e não pode se permitir ao desfrute de focalizar esse amor sobre apenas
um componente da Criação. Não nos ligamos amorosamente a ninguém em
especial, mas isso não significa que não amamos aquela pessoa. Nós a amamos,
como amamos a Humanidade. O profano não consegue entender isso e nos
chamará de insensíveis e outras coisas assemelhadas.
Esse amor particular para nós é uma doença contra a qual fomos vacinados.
A ligação amorosa com uma pessoa em particular seria para nós uma âncora que
nos impede de sair do lugar, nos impede de navegar e nos impede de amar a
Humanidade, porque então seriam dois pesos e duas medidas, já que o amor
dedicado àquela pessoa não seria o mesmo que é dedicado à Humanidade, seria
de um tipo diferente.
A bem da verdade temos de dizer que muitas e muitas uniões amorosas na verdade
são falsas, onde as pessoas acabam se unindo a outras porque tem medo de
morrer sozinhas.
Ficar obcecado com alguém, chorar por amor, ter ciúmes, insegurança, isso é
o amor dos profanos, e isso gerou derivados porque se já não bastasse o amor
ser uma doença existe ainda a situação de pessoas que são viciadas em amor
: estão sempre se apaixonando e se passarem um tempo prolongado sem se
apaixonar começam a se sentir mal, entram em depressão, etc. A
nós não serve, porque o tal amor quase sempre é muito mais uma
razão sexual do que realmente amorosa, pois as pessoas confundem as coisas. Se
sentem atraídas sexualmente por alguém e já vão logo dizendo que é amor.
Dizem que existe mas pessoalmente eu nunca conheci um caso de amor verdadeiro e
que tenha dado certo. Na maioria das vezes foram uniões por conveniência, mas
obviamente sempre vai aparecer alguém tentando me convencer de que existem
uniões perfeitas. E tem sido comum relatarem o caso de seus pais, ou de uma tia
que encontrou sua alma gêmea, etc. mas não acredito em nada disto.
Assim, que de uma vez por todas fique claro que não é que os Magos não
amem. Amam, mas em escala planetária, não podem se deter em uma
pessoa em especial. O amor que sentimos é intenso e sublimado.
Poucos entendem o que isso significa, e por isso o mundo está do jeito que está.
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