As  Correntes  Contrárias

 Palestra proferida pelo Mago Daniel na Magos em  06 / 02 / 2.000 a.D.


               

                    A Magia é um caminho, e vai em um sentido, para frente e para cima, escala ascendente. Visa aprimorar o Homem, e conseqüentemente a Humanidade.  Mas há um outro caminho, em sentido inverso.  Conduz  à  degradação,  à  infâmia  e  a tudo  o  que  é deplorável.   Esse  caminho  é  a  Via Malefactum , o caminho dos que estão em erro na Magia, que seguiram a corrente contrária.
                  Mas há diferentes tipos de pessoas que estão, magicamente falando, na corrente contrária.
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Corrente Contrária"  é um termo muito importante na Magia. É um termo muito usado pelos ocultistas para designar o Caminho da Mão Esquerda, que é a designação mais correta para aqueles que, cientes do que estão fazendo e tendo feito essa opção, ingressam pelo caminho mágico que não está sujeito ao Código de Ética, em outras palavras, é o caminho daqueles que utilizam a Magia para interferir no livre arbítrio e praticar o Mal.
                  Um tipo está ciente disto, e o fez por opção, ele serve às forças involutivas, em outras palavras é um escravo do Mal, da  Goécia , e da Involução. Consegue adeptos facilmente, e lhes seduz com todas as facilidades que a Magia invertida pode dar aos seus infelizes praticantes.
                  O outro tipo é o que podemos chamar de leigo praticante, algo como um profano com mania de grandeza. Normalmente será uma pessoa desocupada ou de  vida sem muito sentido que, não tendo coisa mais produtiva que lhe consuma tempo, resolve entrar na Magia. Dispõe de poucas informações, na verdade quase nada, mas vai se auto-proclamar orientador, sai desesperado em busca de alunos e forma grupos de alunos e passa a lhes ensinar o que não sabe, levando-os a erros sucessivos. Toma discípulos e lhes arruína as vidas. Incentiva essas pessoas a práticas cada vez mais perigosas, mas não sabe (e logo vai descobrir) que é o responsável kármico pelos atos funestos desses alunos.  E vai doutrinando-os, tentando ocultar-lhes toda a leviandade de seus pseudo-conhecimentos. Muitos acordam e percebem que esse barqueiro não sabe nada desse rio, e conseguem salvar-se a tempo.  Outros vão afundar junto com o barqueiro, pois o naufrágio é só uma questão de tempo, sempre foi assim e sempre vai ser. Ninguém lida com a Magia impunemente.
                Os dois tipos são potencialmente perigosos. Ambos são invejosos e basta que se chegue perto para perceber-lhes os maus fluídos, pois toda a sua maldade se reflete em suas auras.
                Apenas uma falha de caráter faz alguém entrar na corrente contrária.  Os que se tornam adeptos do primeiro tipo, na verdade querem Poder temporal, e os que se tornam adeptos do segundo tipo só se tornam assim porque levam vidas tão ou mais vazias que a de seu  "orientador" .
                Nenhum Mestre autêntico jamais prometeu que fosse fácil o caminho da Magia ; nenhum Mestre promete Poder aos seus discípulos.
                Para as vítimas dos adeptos das correntes contrárias vale a lei da oferta e da procura : se há pessoas procurando mestres, então há "mestres"  nesse mercado.
                O que fica difícil de entender às vezes é como as pessoas não enxergam ou não querem enxergar quando seus orientadores estão na corrente contrária .  Se um desses discípulos vê seu mestre praticando magia para enriquecer, o que ele espera aprender de bom com esse mestre ?  Se ele vê seu mestre usando magia para prejudicar a vida de alguém, o que esse mestre vai poder lhe ensinar de bom ?  Se vê esse mestre usando magia para interferir no livre-arbítrio de outras pessoas, o que pode esperar aprender de bom com esse mestre ?  O falso mestre, ele mesmo, mostra quem é, por seus atos e suas palavras, onde não vai esconder seu rancor e seu ódio contra qualquer um que não tenha compactuado com ele.  Não é preciso que se tire a máscara de um falso mestre ou de um pseudo-orientador : é sempre ele mesmo que acaba levantando o véu de Maya que lhe ocultava a obscenidade de sua alma doente, e mostra, mais cedo ou mais tarde mas sempre mostra, o que realmente é, seja ele um falso mestre do primeiro ou do segundo tipo. Ora, se um discípulo vê seu mestre ou orientador envolvido nessas coisas nefastas e não condizentes com quem tenta parecer comprometido com altos propósitos, o que espera dele ?  Que elevação espiritual pode ter um indivíduo que use a Magia para finalidades pessoais ? E o aluno que continua buscando aprender com um mestre desse tipo então aceita e aprova essas atitudes.  É por isso que nós dizemos que não há inocentes nas correntes contrárias.  Quem está ali vai afundar, é só questão de tempo, mas é porque quis assim.
                 O que quer ser um Iniciado deve se submeter aos ritos. O que gosta de comodismo e facilidades não quer este caminho, acha que é mais fácil ir pela corrente contrária.  Só que logo vai descobrir o porque aquilo parecia ser tão fácil.  Vai  em  seguida  descobrir o porque os Mestres seguem pela  Via Dolorosa, se submetendo a ritos cada vez mais rigorosos, enquanto ele foi por um caminho que lhe parece fácil, cheio de promessas.
                 O caminho da Magia é difícil, impõe sacrifícios e muitas vezes vai ser desanimador, mas se é o que escolheram, então não vão pela corrente contrária. O final de quem segue pela Via Malefactum é sempre a  morte ou a loucura, e há muitos exemplos por aí que atestam que isso é verdade.
                 A Magia é para magistas e iniciados. Nas minhas homepages já escrevi que  se alguém me pergunta se eu acho que deve seguir o caminho da Magia eu respondo que acho que não deve. Quanto mais você souber, tanto mais lhe será exigido. Quanto maior o Conhecimento, maior a cobrança.  Percebi muitas pessoas tentando se aventurar na Magia como se fosse uma diversão, mas esqueçam coisas bonitas que acontecem em seriados como Charmed. Na vida real isso não é assim, e se você usar a Magia para fins pessoais você está na corrente contrária. 
                Infelizmente os navegantes das correntes contrárias são (ou foram) pessoas que começaram dando um mau uso particular à Magia ; logo depois ligaram-se a alguém que incentivou isso, e de repente já estavam envolvidos com a Baixa Magia. Daí em diante é só queda, que será ainda mais penosa  se vier disfarçada de avanço, na forma de um passo para frente e dois para trás. O indivíduo fica fascinado por ter atingido um objetivo qualquer, e nem percebe que perdeu muito com isso, uma " Vitória de  Pirro"  que ele nem sequer percebe, e assim vai até que não tenha mais o que perder, a não ser a própria vida ou a sanidade mental, pois a corrente contrária cobra um pedágio muito alto. O detalhe é que muitas vezes ele atingiu um objetivo de uma maneira que não tinha nada a ver com Magia, mas ele se esforçará para convencer a si mesmo e aos auto-iludidos que o aplaudem de que aquilo foi obtido por causa de seus  "poderes" .  
                 Sempre repito : se a pessoa não recebeu o chamado, nem deve entrar no caminho da Magia. As tentações são grandes demais e a pessoa, inicialmente até bem intencionada, pode vir a ser seduzida pelas correntes contrárias se não estiver sendo muito bem orientada por alguém que tenha autoridade moral, espiritual e intelectual pra isso.  É muito grande o número de  "mestres"  convidando pessoas a se tornarem seus discípulos, assim como é grande o número de pessoas procurando um Mestre, e acabam encontrando um  "mestre" .
                 Pessoas que levam vidas lamentáveis e vazias se metem com a Magia pra preencher o ócio de suas muitas horas livres. Se envolvem com coisas sérias, começam a usar rótulos, se ligam a pseudo-Ordens e começam a arrebanhar adeptos.  Enganam essas pessoas, que a bem da verdade deve-se dizer que queriam ser enganadas pois a pessoa perturbada que personifica um Mestre sempre dará diversas demonstrações de sua perturbação mental e só não vê quem não quer ver ou que compactua com isso. Tudo começa pela fidelidade iniciática : além do simplório, quem vai confiar magicamente em alguém que não se decide e seguidamente muda de Caminho ?
                  Em uma carta sobre os maus religiosos, Santo Inácio de Loyola escreveu que é preferível um rebanho sem pastor do que um rebanho que tenha um lobo como pastor.
                  Quem está na corrente contrária sempre leva junto consigo quem estiver perto, como fazem aqueles que estão se afogando e costumam arrastar aqueles que tentavam lhe salvar do afogamento.  
                  Quem é mais louco :  o louco que faz loucuras ou aquele que apóia as loucuras do louco ?
                  O louco pseudo-magista tem uma necessidade de platéia e cumplicidade, e por isto tentará estabelecer laços de profunda empatia com essa platéia. É ela que lhe dará o incentivo necessário para que afunde cada vez mais, mas o que uma parte dessa platéia não sabe é que essa cumplicidade tem um preço que será cobrado, e é um preço sempre alto.
                   Um pseudo-magista  é um perigo para ele mesmo e para sua platéia.  Não vai afetar ninguém com seus pseudo-feitiços, não vai matar inimigos usando  magias ou coisas assim, mas criará uma egrégora extremamente nociva nesse grupo de desajustados, atrairá todo um séquito de larvas astrais  ( vide capítulo Larvas  ) por causa da intenção nefasta , e pelas tentativas de interferir no livre-arbítrio  será arrastado pelas correntes contrárias. Dos pseudo-magistas só o que costuma restar é um corpo vegetativo e uma mente destruída. Em outras palavras, um alienado total. Invariavelmente terminam seus dias sozinhos.
                     Como qualquer outro viciado, o indivíduo viciado em "magia"  e que já navega nas correntes contrárias se recusa a ver onde está.  Da mesma maneira que ocorre aos demais viciados ele acha que pode largar essas coisas no momento em que quiser mas na verdade é um caminho sem volta. As larvas e o desejo de aprovação e reconhecimento vão lhe fazer ir cada vez mais adiante nas correntes contrárias.
                      Eliphas Levi escreveu e eu reitero :  ninguém lida com a Magia impunemente.
 

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