Uma estória muito antiga diz, mais ou menos assim:  havia um grupo de homens cegos de nascença e um dia lhes foi trazido um elefante para que conhecessem o animal. Como não podiam ver, trataram de apalpar, cada um uma parte, e tiraram suas conclusões.
O primeiro apalpou a tromba do elefante, e descreveu o animal como sendo semelhante a uma cobra.
O segundo, que apalpou as patas, disse estar errada a conclusão do primeiro, porque o elefante era como um tronco de árvore.
O terceiro, que apalpou as presas, contestou os outros dois, dizendo que um elefante era como galhos.
O quarto, que apalpou o rabo, disse que os três primeiros estavam muito enganados, porque um elefante era como uma corda.
O quinto, que havia apalpado as orelhas, disse que um elefante era como uma folha de palmeira.
E o sexto, que havia apalpado a barriga riu-se de todos os outros julgando-os loucos, porque para ele um elefante era semelhante a uma parede.
E assim prosseguiu a discussão, cada um dando a sua visão do que era um elefante enquanto o dito animal ia embora sem entender o porque de tanta controvérsia.
 

 

               Na vida acontece isso a todo instante. Com base na nossa experiência tiramos as nossas conclusões mas nem sempre essas conclusões combinam com as conclusões dos outros.
              Veja que na estória que narrei cada um daqueles homens tinha a sua própria concepção de Verdade, e essa concepção era baseada na experiência de cada um, mas deve-se observar que cada um deles tinha uma Verdade parcial e que juntas formaria a Verdade Absoluta, que, no caso, seria a descrição correta do que seria um elefante. Assim, eles não estavam errados, estavam equivocados, e cada um tinha um pedaço da Verdade.
              Existe a chamada Verdade Absoluta mas enquanto não evoluirmos o suficiente para suportar essa Verdade teremos que nos basear na Verdade de cada um.  O que é a Verdade para mim poderá não ser para você. E a recíproca é verdadeira.
              O que eu entendo como o grande pecado do mundo é quando tentamos impor a nossa Verdade aos outros, como se ela fosse a verdade Absoluta.
              Vemos muito disso, em toda parte. Um imenso número de guerras aconteceram e ainda acontecem por causa disso, e um grupo ou país tenta impor a sua Verdade aos demais e, não sendo aceita, vem a guerra, que passa a ser guerra santa, como se alguma guerra pudesse ser justificada.
              Seja política, ideológica ou religiosa a Verdade de cada um tem de ser respeitada e jamais deve ser imposta aos outros, que tem sua própria evolução e seus próprios conceitos, enfim tem a sua Verdade.
              Por qual motivo para mim seria importante obrigar você a aceitar a minha Verdade, a não ser a necessidade de auto-afirmação ?
             Toda religião ou filosofia que chame   para si a posse exclusiva da Verdade está errada, com ou sem culpa, mas está errada.
             Vi muito disto na Magia. Pessoas desenvolvem suas teorias próprias, que são uma mescla de teorias de diversas fontes e elaboram conceitos que passam a ser divulgados como expressão da Verdade, e quem discorde desses conceitos é considerado adversário. Na Magia o respeito é muito importante, como também o é na nossa vida cotidiana onde a nossa verdade só cabe a nós mesmos. Não precisamos acatar e incluir em nossa vida o que é a Verdade de outros mas também precisamos compreender que não nos é permitido impor aos demais o nosso conceito de Verdade.
             Se observará a fraqueza de uma pessoa, religião, filosofia, doutrina ou país na medida em que este sentir a necessidade de impor a sua Verdade aos que lhe cercam.
            Porém, deve ficar claro que não é pelo fato de que discordo de sua visão de realidade que isso me dá o direito de atacá-la. Que cada um fique com a sua própria concepção, até que possamos estar aptos a suportar a Luz da Verdade Suprema. Se olhássemos para ela agora ficaríamos cegos pois não a suportaríamos.
            Por esta razão a Inteligência suprema nos capacitou a desenvolver nossas próprias concepções de Verdade, para que evoluamos dentro dessa concepção até estarmos em condições de vislumbrar a Grande Verdade.  Mas a grande lástima acontece quando ficamos tão fascinados com nossas próprias teorias que sentimos ser nossa obrigação impô-la aos outros, às vezes até visando “
salvá-los” . Em uma situação tão lastimável nós é que precisaríamos ser salvos desse tipo de idéia absurda.
            Para mim o pior tipo de conflito dessa natureza é a chamada guerra religiosa, aquele tipo de conflito em que eu estou em guerra com você porque lhe digo que o meu Deus é muito melhor que o seu, daí pegamos em armas e vamos ao campo de batalha para resolver isso, porque cada um de nós acha que “
Deus está do lado de quem vai vencer” .
           Absurdo é quando alguém diz à Maçonaria que ela está errada por causa de sua concepção  do  G . A . D . U .   Absurdo é dizer a um índio que ele está errado por acreditar em Tupã. Absurdo é o que acontece na Irlanda, onde católicos e protestantes se matam nas ruas porque “
ele não quer acreditar na mesma coisa em que eu acredito e por isso deve ser destruído”.
          Que cultivemos a nossa Verdade Interior, sem nos preocupar se nosso vizinho pensa da mesma maneira ou não. Ele tem sua própria evolução, suas idéias e sua própria concepção de Verdade .
          Viveríamos muito melhor se nos preocupássemos com nossas idéias e deixássemos que os outros tivessem a liberdade de cuidar das suas.
          Talvez ainda não nos seja possível agir em nível de país, mas “
uma caminhada de 5.000 quilômetros começa com o primeiro passo” , e se começarmos a cuidar de nós sem a preocupação de impor nada ao vizinho já será um bom começo de caminhada.
         Afinal, se quem salva uma vida salva o mundo, se modificarmos uma vida modificamos o mundo, e nada melhor que essa primeira vida modificada seja a nossa.
 
         Um grande abraço.
         Vida e Vitória.
 
                                                                          Mago  Daniel
                                                                      Anno  IX  in  Solis  Traditio
 
          Escrito no Templo do Mago às 06:00 Hs. do dia 29 de Outubro de 1999  a.D.
 
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