Todos aqueles que lidam com a Magia, em qualquer grau, sabem que a mente é
um fator preponderante, na verdade a chave de muitas realizações que nem
sempre são devidas à Magia propriamente dita. Quer dizer, muitas vezes a
mente utiliza recursos superiores de que dispõe e obtém resultados e é comum
que o vulgo veja nisso uma intervenção de poderes mágicos de alguma espécie.
Mas há efeitos que não dependem da mente e isto deve ficar claro.
Para todo o trabalho mágico a tranqüilidade mental é imprescindível e a
prática da meditação, especificamente a meditação
transcendental será de suma importância.
Meditar significa acalmar a mente e estabelecer um elo de ligação direta com o Interior. É introspecção, é como "olhar para dentro e si" , uma busca de si mesmo, e essa busca só pode acontecer se a mente está em paz. A meditação é dar ordem de silêncio aos pensamentos vãos. É o que meu Mestre chamava de "ouvir o silêncio da alma" . Pela meditação se estabelece um canal de comunicação com nosso próprio Eu. |
Depois que se adquire uma certa prática é possível meditar em qualquer lugar,
mesmo em ambientes barulhentos pois essa prática ensinará a se desligar do mundo
externo. Mas, como toda prática, deve ser exercitada, começando pelo básico
até chegar às formas avançadas.
Adquirir o hábito da prática meditativa implica em ritual. Um ritual é
um conjunto de procedimentos ordenados com determinado fim.
Recomendo aos iniciantes que estabeleçam um determinado momento específico do
dia (ou da noite) para essa prática mas de forma a que não ocorram muitas
variações e o horário seja basicamente sempre o mesmo.
É muito importante a escolha do local : que haja privacidade de forma a não
ser interrompido a todo instante, e que não seja um local de circulação de
pessoas nem demasiado desconfortável.
Ficará perfeito se você puder colocar uma
música suave, em volume baixo ao fundo e melhor ainda se usar uma vareta de
incenso. A questão do incenso vai depender do gosto pessoal de cada um. Na
minha opinião o melhor é o de Rosa Musgosa, que eu adquiro com os rosacruzes.
Eu sempre digo que tenho minhas discordâncias com os procedimentos da Rosacruz
mas eles vendem uns incensos de qualidade excelente e eu sempre compro.
Resolvido o problema do ambiente agora vem a postura. Essa parte é
fundamental.
Necessariamente você precisa sentar-se com a coluna ereta. Mais adiante, quando
se especializar você poderá meditar do jeito que quiser, mas não tente isso
agora. Comece pelo procedimento padronizado e sente-se com a coluna ereta.
Os orientais meditam na postura de lótus (a da figura acima) mas
ocidentais tem uma dificuldade com essas asanas (asanas = posturas)
porque os orientais as praticam desde que são crianças de forma que seus
corpos são treinados nisto, o que já não acontece com os ocidentais.
Mas a postura de lótus não é imprescindível (não nesse momento) e
você pode sentar-se em uma cadeira.
Agora vem a respiração. Existe toda uma disciplina oriental a respeito
da respiração. Chama-se Pranayama. O ar é chamado de energia vital, e
recebe o nome de Prana. Mas essas terminologias não são importantes agora,
pois vamos ver apenas a parte que é importante para nosso trabalho.
Estando na posição sentados e com a coluna ereta, vamos respirar ritmicamente.
Primeiro, encha os pulmões. Retenha o ar por cerca de 5 segundos. Agora solte o
ar até esvaziar os pulmões completamente (sinta isso) e uma vez vazios
mantenha-os assim por também 5 segundos. Esse processo deve ser repetido por
uns 15 ou 20 minutos, pois possibilitará um melhor relaxamento. O passo
seguinte é a visualização.
A sensação de paz e
auto-abandono é muito necessária. Nenhuma preocupação com o corpo,
nenhuma preocupação com coisas da matéria. Simplesmente se deixe
levar pela sensação de calma. Seja um com o Todo. Aqui vem a parte mais importante e mais difícil de todo o processo: tente não pensar em nada, absolutamente nada. No início você só conseguirá isso por breves instantes mas logo manterá o vazio por um tempo maior. |
Parece fácil mas é algo realmente difícil de se obter porque a mente está
habituada ao constante turbilhão de pensamentos e para ela um estado mental de
supressão total desse turbilhão é um estado anormal e como tal haverá
resistência por parte dela em se submeter a ele.
A quietude mental (plena) e a sensação de paz são o fundamento da
meditação transcendental.
Mas como se pode explicar a uma mente cartesiana como a ocidental o que é a doutrina da não-Mente ? Como é possível explicar a uma mente habituada à lógica o que é a abstração mental ? Existem coisas que são tão simples que não se pode explicá-las, de fato é um paradoxo. |
Meditação transcendental é meditar no Vazio, é auto-abstrair-se. Mas se é
dito "Não pense em nada" muitas pessoas não entendem,
porque suas mentes estão habituadas a resolver problemas complexos, por isso
às vezes as coisas absurdamente simples tem de vir acompanhadas do chamado
"agente complicador" para que possam ser melhor assimiladas pela
mentalidade do ocidental. Dizer "Não pense em nada"
não é suficiente, embora esse seja o pilar básico, e por isso são
criadas elaboradas teorias e mais teorias explicando a meditação
transcendental quando na verdade nem há o que explicar, é só a não-mente, o
silêncio imposto aos pensamentos arredios.
Muita coisa pode ser escrita a respeito mas na minha opinião só mesmo a
auto-experiência dará respostas. As experiências de outras pessoas podem ser
bons auxiliares para nossa orientação, mas de forma alguma devem se tornar
regra a ser imitada. faça as adaptações que achar necessárias pois,
diferentemente dos rituais mágicos, a meditação não se prende a regras
rígidas, portanto admite as adaptações.
Esquecer de si mesmo é o sinal mais revelador de que se atingiu o estado da
calma soberana ; perder a noção do Self é o que de melhor pode
acontecer a alguém que esteja meditando : significa que atingiu a Meditação
Transcendental.