O texto abaixo é um pequeno trecho das Notas Introdutórias do meu livro  "O LIVRO DA FÚRIA", ainda inédito.

                  

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                    Muito controversa, a figura do Mestre está presente em todos os segmentos do Ocultismo, do Esoterismo e do Hermetismo, mas muito raramente ela é explicada aos leigos tal como essa figura realmente é.  A bem da verdade, notou-se que no mais das vezes parece é haver um esforço para manter uma falsa mística a esse respeito pois há quem se beneficie com a escassez de informações sobre esse tema.

                   Ao meu leitor explicarei inicialmente o que o mestre NÃO É.  Ele não é alguém que vai aparecer no seu caminho porque você acha que está pronto.  Ele não é alguém que vai vir para começar a ensinar você a partir do nada.  Ele não é alguém que vai vir, pegar você pela mão e levá-lo por um caminho espiritual onde tudo é bom, belo e maravilhoso.

                   Um dos mais antigos axiomas na Magia diz que  “quando o discípulo está pronto o mestre aparece”.   Em  um  primeiro momento isto parece correto, mas essa afirmação não resiste a uma segunda análise porque nos parece muito mais correto supor que  “quando o discípulo está pronto o mestre  DESaparece” ,  já que um discípulo pronto significa que já não precisaria de um Mestre.

                  Mas vamos nos ater à frase original e assumir que seja válida. Então  “quando o discípulo está pronto o mestre aparece”  tem uma filigrana que tem de ser considerada mas que raramente o é :  quem avalia se o discípulo está pronto ou não ? Obviamente que em se tratando de leigos a tendência é o próprio leigo julgar-se pronto para o surgimento de um mestre, mas é nosso dever esclarecer que essa avaliação jamais é da própria pessoa e sim do referido mestre. Também deve ficar esclarecido que nesse momento essa pessoa sequer é discípula e, quando muito, é candidata a discípula. O Discípulo, com “D” maiúsculo, é alguém que já passou por todas as sondagens e já está sendo tutelado por um Mestre.  Vale dizer que se se tratar de um Mestre das Ordens Ancestrais esse Discípulo só o é porque o Mestre o propôs à Ordem e esta aprovou o candidato.

                 Ocorre que o mestre não surge de repente, do nada.  A pessoa que está trilhando um caminho mágico e se empenhando em estudos e aprimoramento poderá atrair a  atenção de um mestre, que então vai observar essa pessoa mais de perto, num processo chamado sondagem.  É preciso que por seus esforços a pessoa atraia a atenção de um mestre.

                Há quem vá dizer :  “mas como é que eu, que moro aqui na zona rural de  Tralalá do Norte, cidade da Grande Cafundós,  vou atrair a atenção de um mestre ?”    Esclarecemos que não será esse o maior problema.  O problema realmente relevante é se você tem algo que mereça a atenção de um mestre.  Tem de ficar claro que o mero gostar de ler “ocultices” ou manifestar algum interesse por temas inusitados não é suficiente para que se suponha tratar-se de um caminho espiritual.  É por coisas assim que hoje os ditos meios ocultistas estão repletos de pessoas recalcadas e frustradas, especialmente na internet, com gente que está revoltada com o não aparecimento do mestre de que se julgavam merecedoras de encontrar quando não tinham nada para mostrar além de meia dúzia de livros de gosto duvidoso e mais o que elas chamam de  “desejo ardente” de ter um mestre.

               O caso puro e simples é que a grande maioria das pessoas nem faz idéia a respeito do que implica no surgimento desse mestre.  Primeiro, ele vai impor uma disciplina que não é para qualquer um ;  vai impor regras a serem seguidas e, mais importante, vai informar a respeito das renúncias porque, fique sabendo, leitor, seguir um caminho espiritual sob a supervisão de um Mestre é algo que não pode ser feito por você tal como você é hoje, pois que vai ter de abdicar de uma série de coisas, muitas delas a respeito de condutas.

             Por mais incrível que pareça existem pessoas que acham que só porque gostam de certos livros pseudo-esotéricos e tem o já mencionado “desejo ardente” vai surgir de um instante para o outro o tal Mestre, que sem mais nem menos e sem exigir nenhuma mudança vai começar a ensinar coisas maravilhosas, como a fazer bolas de fogo com as mãos para jogar nos inimigos.  Parece uma coisa insana de se pensar,  mas é exatamente isso que muitas e muitas pessoas pensam que vai acontecer, e eu mesmo recebo muitos emails de pessoas que me perguntam se uma situação assim de fato existe  ( é que leram sobre isso em alguns daqueles livros pseudo-esotéricos aos quais me referi ).

            Existe um outro engano sobre o mestre, tão ou mais absurdo que os enganos anteriores, que é o fato de se achar que o mestre vai vir e vai começar a ensinar o seu discípulo a partir do nada, começando pelo mais básico.  Isso não existe.

            Deixei isto claro no início do capítulo quando citei as coisas que o mestre não é, mas aqui explanarei um pouco mais.  O que mais frustra os pseudo-candidatos é descobrirem que eles teriam de ter uma apreciável bagagem cultural para que pudessem começar a ter alguma remota ambição de contato com um mestre. E por apreciável bagagem cultural subentenda-se não só bons conhecimentos aprofundados sobre temas esotéricos mas também de cultura geral, o que fatalmente implicará em MUITO estudo e leituras extensas.  Em suma, se não for uma pessoa aficcionada por estudo e leitura ela melhor faria tirando da cabeça a possibilidade de entrar nesse mundo do Ocultismo Iniciático.  Se se tornar discípula ela vai ter que ler e estudar muito durante anos, mas antes de ser discípula ela já deverá ter um cabedal de conhecimentos adquiridos a parti do qual o mestre poderá começar seu trabalho. Nessa fase ele fará o trabalho de um lapidário, vai burilar a pedra bruta aparando as arestas, ou seja, vai começar corrigindo os conhecimentos do discípulo, atualizando-o e aí então começará a dar complemento.

         Pensemos juntos :  por qual razão um mestre iria se interessar por um candidato que não tem nada na bagagem além do  “desejo ardente”  se esse mestre pode começar tomando um discípulo que já tem um lastro cultural acumulado ?

         Uma outra coisa que penso ser imprescindível que seja esclarecida é que NENHUM mestre autêntico sai por aí se oferecendo ou anunciando que está em busca de discípulos.  Note, leitor, que todo indivíduo que usa desse expediente é um charlatão e vigarista que pretende tão somente tomar dinheiro dos ingênuos que imaginam que um mestre real vá se anunciar e dizer-se aberto a aceitar discípulos. E alguns desses “mestres”  até mantém anúncios em revistas e sites se colocando à disposição de quem quiser tê-lo como mestre, o que sempre vai ter um custo financeiro, que os simplórios pagam de muito bom grado porque acreditam piamente que ali está um mestre que vai lhes instruir e lhes dar a Iniciação.

         Em um outro momento vamos entrar justamente nesse tema da Iniciação e aí veremos um outro engano já que, a despeito do nome Iniciação, esse é um evento que só ocorre no fim do Discipulado, mas o que mais se vê são os vigaristas iludindo os ingênuos e lhes dizendo que logo de início deverão pagar uma quantia X para receberem a Iniciação.  E um ingênuo desse nível, que então deixa a categoria de ingênuo para ingressar na de néscio,  depois de devidamente extorquido e achacado passa a se considerar um Iniciado, porque há apenas um mês ele “encontrou seu mestre” e este o iniciou em alguma cerimônia  estranhuda e teatral para impressionar o néscio e fazê-lo crer que a partir daquele momento ele é um Iniciado nos Mistérios e então recebe algum título tão pomposo quanto esdrúxulo, geralmente em Latim, que é para dar maior credibilidade.

        Seguidamente pessoas me escrevem perguntando se poderiam ser meus discípulos, e eu lhes esclareço que isso não se dá dessa forma e lhes advirto para que tenham cuidado, já que da mesma forma que perguntaram isso a mim, também perguntam o mesmo a muitas outras pessoas.  Esse desespero por um mestre vai colocá-los nas mãos de um “mestre” que vai lhes vender iniciações, títulos e vai tirar-lhes tudo o que puder e se surgir oportunidade ainda vai torná-los seus escravos mentais e poderá usufruir deles até favores sexuais, sempre disfarçados como partes de alguma cerimônia iniciática, muitas vezes chamada de “magia sexual”.  Na verdade é só picaretagem que visa sexo, mas de modo a parecer uma cerimônia ritualística.

       Aplica-se aí a mais básica das leis do comércio, que é a lei da oferta e da procura :  se tem alguém querendo comprar, vai ter alguém pra vender o que ela quer.

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       Uma coisa bem interessante de se observar em uma rápida pesquisa na internet e em determinados livros é a maneira como pessoas que nunca tiveram a oportunidade de sequer chegar perto de um Mestre autêntico se põe a explicar a respeito dessas pessoas, e o fazem com uma eloqüência impressionante. Falam a respeito e descrevem sobre mestres de uma maneira que leva os ingênuos a uma falsa crença sobre o que seja um Mestre, crença esta repleta de equívocos, achismos e disparates,  e é só ler essas descrições para imediatamente  se saber que aquela pessoa não faz a mínima idéia do que está se propondo a explicar.

      O Mestre não é amoroso, nem carinhosos nem nada dessas bobagens. Ele é exigente, firme, e até autoritário, no sentido positivo dessa palavra.  Leve-se em conta que o Mestre está preparando o discípulo para ser seu continuador, o discípulo vai ser o sucessor do mestre, então ele tem de primar pela qualidade desse discípulo, o que exclui todas as formas de indulgências descabidas e outras coisas “carinhosas”, quando o Mestre está é lapidando alguém que vai se tornar parte de uma tradição mágico-iniciática que não aceita menos que excelência naqueles que ela vai acolher.  Tambem é preciso enfatizar que o Mestre constantemente testará o seu Discípulo, e o fará de diversas formas e em muitos momentos.  O Discípulo será submetido a muitas  tarefas, situações e condições de modo a avaliar o desempenho, onde verificará a reação, senso de pronta resposta, capacidade de improviso, engenhosidade, critério de avaliação, proatividade, etc.  Se aplicará muito seguidamente o antigo preceito argantiano que diz  "Onde houver fé, que eu leve a dúvida."

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