A oração ( a prece ) é uma prática absolutamente indispensável ao místico, seja ele da tendência, do caminho e da tradição mágica que for.
                    Que me seja permitido aqui fazer uma observação pessoal :  de minha parte não sou muito dado às orações clássicas, salvo quando algumas delas são exigência ritualística.  Não confundir oração com invocação, como nos casos de exorcismos.
                    Nenhuma oração é melhor e mais recomendada que aquela que sai do nosso coração e com as nossas próprias palavras. Sim, também são eficazes aquelas orações prontas mas elas não são mais  completas que as orações que são feitas com nossas palavras e sentimentos.  Uma oração saída do fundo do nosso coração é algo muito poderoso. 

Mas, será que, como muitas pessoas acreditam, o simples ato de juntar as mãos em atitude suplicante e repetir uma prece do credo cristão seria o suficiente para que esse ato fosse considerado como uma oração, um ato de  fé ?  Ou seria apenas e tão somente um ato inócuo, uma mera imitação mecânica que pretende ser comparada a uma atitude verdadeiramente religiosa ?

                     Há quem tivesse dito que não reza porque não gosta de falar sozinho. Mas ao rezar ninguém fala sozinho, por certo alguém escuta. Mas quem estaria escutando ? Deus, o Poder Maior, o Cosmo, a Deusa, enfim, aquilo que a pessoa quiser chamar. Nomes não são importantes. 
                     Sem  usar explicações mágicas é difícil definir o que é uma oração,mas em linhas gerais se pode dizer que se trata de uma conversa íntima com a Alma.
                     O  místico em oração é, por si só, um instrumento mágico.
                     Entre os místicos o tipo mais comum de oração (prece) é o que podemos chamar de prece de contato. Uma prece de contato é aquela na qual o místico apenas "conversa" com o Poder Maior. Esse tipo de contato reforça o espírito, daí a sua importância.
                     Mas além da prece de contato há outros tipos. 
                     Há a oração que pede, e há a oração que agradece.
                     Orações que pedem são as mais comuns, pois  quando é preciso pedir algo todos se lembram de Deus, mas depois que alcançam o que queriam poucas pessoas se lembram de agradecer, mas muitas vezes é por esquecimento, embora existam outras pessoas que após obter o que pediram não agradecem porque atribuem a obtenção do pedido a outros fatores, até mesmo a uma coincidência, e continuarão achando isso até o próximo pedido.

Um exemplo muito bom de oração de agradecimento é aquela que as pessoas fazem antes das refeições, onde agradecem a Deus pela dádiva daqueles alimentos.
Esse hábito está se tornando cada vez mais incomum.


                    Muitas pessoas dizem não rezar porque se sentem envergonhadas de fazê-lo perto de outras pessoas. Mas uma oração não precisa  ser pública,e quando é pública ela é feita em um lugar apropriado, que seria um templo religioso. De fato seria estranho ver uma pessoa se ajoelhando para rezar na rua.  E na maior parte das vezes o ato de orar é feito de forma reservada, em casa, sozinho.

Um exemplo clássico de oração em que se pede algo são as preces infantís, aquelas que as crianças fazem antes de dormir. Ali elas pedem que Deus as proteja, que  proteja seus pais, irmãos, etc. 
Na sua inocência infantil  repetem frases como "Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador..."

                   A pessoa que reza crê que alguém está ouvindo sua prece. Eu lembro de um versinho que ouvi uma vez no colégio (lá pelo 1º ano) que dizia assim : "Eu vi minha mãe rezando / aos pés  da Virgem Maria / Era uma santa escutando / o que a outra santa dizia. "
                   O místico reza para reafirmar laços e fortalecer seu contato com a divindade, independente do nome que lhe tenha dado.  E sendo ele de fato um místico ele sabe que se não tiver a crença de que aquelas palavras que lhe saem do coração estão sendo dirigidas a um Poder Maior aquele seria um ato completamente inócuo.
                   Em outro capítulo dei um exemplo de prece mística, que é a minha Prece de Abertura de Trabalhos. Se quer conhece-la, clique aqui
                   O que importa é que aquele que está no Caminho desenvolva e intensifique o hábito de orar, mas sem dogmatismos e ligações excessivamente religiosas. Uma prece não precisa estar ( e não tem que estar ) ligada a nenhuma religião, não precisará mencionar  o nome de nenhum Deus das religiões estabelecidas , e é por esta razão que as preces místicas evitam citar nomes dados por religiões, e o mais correto é usar termos como "Poder Maior" , pois um termo assim é neutro.  Mas deve ficar esclarecido que de forma alguma estou invalidando ou menosprezando as orações oficiais, como o Pai Nosso, a Ave Maria e o Credo.  Em todos os  casos, seja uma oração do coração ou seja uma oração oficial, se você não sentí-la ela será inócua.  O que uma oração
NÃO É : repetição de palavras ou palavras ditas mecanicamente.  O ato de rezar é uma fusão de corpo e alma, que naquele momento trabalham juntos.
                      
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                  Em muitas obras ocultistas, religiosas e metafísicas iremos encontrar os conceitos de oração e prece como atividades distintas, mas neste trabalho, a fim de facilitar a compreensão e considerando a sutileza e a mera tecnicalidade que distinguem a ambas, iremos tratar de oração e prece como sinônimos.
                 A oração é a principal via de comunicação com o Poder Maior, é o que pode possibilitar um maior  approach  com a divindade.  Independente do fato de haver ou não uma resposta por parte do Poder Maior a questão é que mesmo para transmitir a mensagem é preciso seguir os procedimentos corretos e ocorre que a grande maioria das pessoas simplesmente não sabe como fazê-lo e portanto não chega a transmitir ou se equivoca achando que transmitiu.
                Inicialmente vamos ver  os principais tipos de preces dos quais as pessoas fazem uso mais freqüentemente.  As preces são :

 PRECE  VOTIVA :   é a prece devocional na qual se louva a divindade ou a santidade.  São as preces dirigidas a Deus ou aos santos no intuito de louva-los.  Na categoria de Prece Votiva está o Pai Nosso, a Ave-Maria e as Preces dos santos da devoção de cada um. Esse tipo de prece visa buscar uma identificação maior com o objeto da prece em si.

 PRECE  SUPLICANTE :  é aquela que é feita com o intuito específico de dirigir pedidos ao objeto da prece,  de maneira que nela estão relacionadas as necessidades do suplicante, sejam elas de natureza espiritual ou material. Dadas as circunstâncias do mundo atual, esse tipo de prece é o mais popular, considerando que as pessoas, desesperançadas, tentam usar o Poder Maior ou os santos como uma espécie de Gênio da Lâmpada, de maneira que fazem preces pedindo coisas mundanas tais quais um emprego, um carro, algum contrato com o governo (mesmo que fraudulento, tanto o governo quanto o contrato), um tipo de vantagem que vá gerar rendimento, enfim,  coisas mundanas quase sempre disfarçadas de coisas virtuosas, onde se tenta até barganhar com o Poder Maior, fazendo parecer que se Ele conceder a tal coisa então vamos espalhar alegria, prosperidade e oportunidades para todos à nossa volta.  É sempre mentira e o intuito é satisfazer apenas a nossa vontade, bastando constatar que em geral esse tipo de prece não é atendida e quando o é não é atendida pelo Poder Maior e sim por outro tipo de Força que ali adiante vai mostrar a que veio. E obviamente que uma pessoa que tenta mentir ao Poder Maior e pretende que Deus seja seu cúmplice em atividades escusas também é capaz de trair seus amigos, quebrar promessas, desfazer alianças, tudo sem nenhum tipo de remorso ou abalo, porque foi tragada pela própria ganância e  perdeu a noção das coisas. Por certo isso terá um preço alto a pagar, a começar pelo fato de que sempre perdem tudo o que tinham, não ganham o que queriam e ainda passam a ter tormentos que não tinham experimentado.  Mas é óbvio também que nem sempre a prece suplicante é coisa vinda dos canalhas que fazem as coisas elencadas acima e há pedidos legítimos, onde a saúde figura em primeiro lugar. A prece suplicante pode pedir algo para si como para outros, embora seja inadequado fazermos pedidos por uma pessoa sem a permissão dela e tanto pior se tratar-se de pessoa que pode pedir, ela mesma, o que lhe falta.  Assim, é lícito pedir que tudo transcorra bem para uma pessoa que se encontra em estado de coma e que não pode, ela mesma, pedir,  mas é errado pedirmos algo por alguém que além de não ter nos autorizado a faze-lo ainda por cima está em plenas condições de pedir por si mesma.  A pessoa que pode pedir mas não o faz denota falta de humildade e assim não nos cabe interceder.  Mas se ela pede por si e nos autoriza a pedir também, é perfeitamente lícito ajudarmos.

 PRECE  GRACIOSA  :  prece graciosa é aquela onde damos graças, ou seja, é prece de Agradecimento.  Ocorre que em geral as pessoas estão muito ocupadas pedindo o que acham que lhes falta e esquecem de agradecer pelo que já lhes foi concedido, daí a necessidade de ao menos ocasionalmente se fazer uma prece graciosa em reconhecimento pelo que já nos tenha sido dado. A prece graciosa é, antes de tudo, uma manifestação da Humildade, e a humildade é a conditio sine qua non para qualquer pessoa que tenha alguma pretensão à evolução espiritual, independente do caminho que tenha escolhido visando atingir esse desenvolvimento.  Nos dias de hoje esse tipo de prece tem se tornado cada vez mais rara, porque o homem moderno, querendo sempre mais, geralmente percebe apenas o que lhe falta e esquece de contabilizar o que á possui.  A pessoa simplesmente não consegue ver o que já tem, e só vislumbra o que gostaria de vir a ter, e se põe a orar pedindo o que acha ser aquilo que falta para ser feliz.

 

 

                Devemos fazer as nossas preces e lança-las no Universo, sem aquela preocupação quase paranóica de que ela tenha que chegar diretamente a Deus.  Se foi feita da maneira correta ela será ouvida, mas não precisa ser necessariamente por Deus, pois que há uma miríade de entidades superiores entre nós e a Essência.  Mas a vaidade humana não gosta de ter de tratar com intermediários e quer ir logo ao chefe, o que nem sempre é possível.  Além do que, pesa o fato de que ainda que a prece fosse ouvida pelo próprio Poder Maior isso não significa necessariamente ela será atendida, porque há que se ver a pertinência dessa prece, seja ela do tipo que for.  Aqui me refiro mais à prece suplicante, porque as pessoas são até engraçadas nesse sentido :  quando a prece é votiva ou graciosa as pessoas em geral não se preocupam muito se o próprio Deus vai ouvir, mas sempre que querem alguma coisa, querem uma resposta e estão pedindo algo através de uma prece suplicante elas fazem a mais absoluta questão de que o próprio Poder Maior as ouça e lhes dê um sinal de que a mensagem foi recebida.  Pedem um sinal, ou seja, a nossa petulância pede que Deus nos assine uma espécie de recibo da mensagem enviada.
                Existe uma situação que, infelizmente, não é do conhecimento de todos :  não é possível  fazer uma prece chegar ao destinatário se se está sob violenta emoção.  Ou seja, aquela pessoa que, tomada de tristeza e / ou desespero se põe a orar está perdendo tempo.
                É que um tal contato depende de algumas condições, e uma delas é a harmonia interna, do ponto de vista emocional. Simplesmente não dá para contatar o Poder Maior se a portadora da mensagem está envolta em um turbilhão de desarmonia e emoções violentas.  A palavra-chave aqui é Vibração :  a baixa vibração não pode pretender contatar algo que está em outra escala vibratória.  Se o Poder Maior representa a suprema harmonia, não é possível tentar contatá-Lo utilizando-se um meio desarmônico. A Lei de Interdição também se aplica aí.
               A prece é o grande exercício espiritual por excelência e como tal deve ser realizada nas condições adequadas para tal e por isso a harmonia interna é uma conditio sine qua non.  Pensamentos de baixa vibração não tem como ir a planos acima do humano, o que significa que uma emissão de baixo padrão vibratório não chegará ao seu destino se a pretensão é se fazer ouvir a entidades superiores de planos mais purificados. É a mesma regra que explica por que uma projeção astral induzida não se produz sem relaxamento e harmonia : a vibração grosseira não permite interação com níveis sutís.



                       
COMO  ORAR ?

 

            Claro que essas conversas como a Alta Espiritualidade são uma coisa muito especial mas há procedimentos. Primeiro vamos ter em mente a Intenção.  A prece visa pedir, agradecer, enfim, a que se destina, porque isso tem que estar muito claro para nós.  Na medida do possível deve-se evitar misturar as Intenções, ou seja, na mesma prece evitas-se agradecer, pedir, glorificar, etc.  Uma coisa de cada vez.
            Tendo sido definida a Intenção vem o passo seguinte que é a Atitude, que impõe a necessidade da escolha do lugar adequada e da harmonização interna.
           Muitas pessoas dizem  Posso falar com Deus em qualquer lugar e não preciso ir  a um templo para ter contato com Ele”  mas às vezes esses são os melhores lugares,  não porque Deus estaria ali e não em outro lugar mas sim porque o ambiente é bastante propício porquanto trata-se de um lugar calmo, de atmosfera religiosa e voltado para  esses estados de introspecção e harmonização.  Mas quem tenha a felicidade de ter um ambiente desse sem casa, que faça uso dele, pois o lugar, desde que pacífico, pode ser qualquer um.
          Agora o passo seguinte é a Ação.  O ato de orar pode ser mental ou verbal.  Muitas pessoas preferem usar o meio verbal, oram de maneira que possam se fazer ouvir ao menos para elas mesmas e há quem se faça ouvir por quem esteja por perto.  Nos santuários e lugares de peregrinação as pessoas costumam orar em voz moderada (nunca se ora em voz alta de maneira a perturbar os outros).  Mas há também a oração mental, que é aquela que é feita sem palavras verbalizadas e por isso requer uma disciplina mental maior do que a que é necessária ao modelo anterior.
           Santa Teresa de Ávila, que é a minha santa de devoção, utilizava esse método de oração e incentivava suas monjas e também fazê-lo.  Ela aprendeu os procedimentos da oração mental em um livro chamado Tercer Abecedário, de um místico cristão chamado Francisco de Osuna.  E Teresa teve inclusive problemas com a Inquisição por causa disto e de outras coisas, mas especificamente quanto a esse método de oração a Igreja não aprovava porque ela, a Igreja, desejava que, primeiro, as pessoas só orassem dentro da igreja e sempre em tom de voz audível, nunca a oração mental, porque era importante que se ouvisse o que a pessoa estava dizendo, o que estava pedindo, a quem rezava, enfim, era como se naquela época a Igreja usasse isso  como um “grampo”  para saber o que cada um falava nas suas orações.  Assim, a oração mental era para a Igreja uma espécie de “anti-grampo” que não permitia que se ouvisse o que a pessoa dizia, daí Teresa ter sido repreendida várias vezes sobre isso.
           Essa oração mental requer um estado mental de relaxamento e silêncio e consiste basicamente em uma conversa com Deus como se Ele fosse uma pessoa física com quem estejamos dialogando. E a oração mental tem uma fórmula matemática, que seria a seguinte :


 

                   I  +  A  +  A    

               _______________  ∑  =  ORAÇÂO  MENTAL

 

                        E M P

 

 

            Explicando, significa que ela requer uma perfeita interação entre a Intenção, a Atitude e a Ação, divididos equaninemente pelo Estado Mental Propiciador, cujo Somatório (Sigma) permite a oração mental plena e não um estado alternativo que apenas se pareça com ela.  Se qualquer um dos itens da equação não estiver presente o resultado não será a Oração Mental.
           Essa interação, essa busca de contato com aquilo que lhe é transcendente é indispensável à saúde espiritual do ser humano. Raramente se menciona a saúde espiritual, mas ela é tão necessária quanto  física e a mental.
           Do mesmo modo que o corpo precisa sonhar o espírito precisa dessa interação com o Todo e a oração, de qualquer tipo, vai proporcionando esse contato, porque o homem não é apenas matéria, tampouco apenas espírito, de maneira que ao privilegiar apenas um de seus aspectos de manifestação o outro se ressente e a seguir se atrofia. Entra num estado que chamamos de descompensação.  Se o lado espiritual foi o único privilegiado o corpo físico foi abandonado e essa pessoa passa a se comportar com um daqueles loucos visionários, um esoteróide que vive nos planos sutis ao invés de viver no plano físico. Dependendo do grau de envolvimento espiritual e o grau de negligencia para com o corpo físico uma pessoa assim costuma terminar em alguma instituição psiquiátrica. É aí que vemos tantas pessoas que se envolveram demais com esoterismo e que nem ligam mais para o físico, não tomam banho, não se arrumam, etc.
         Mas tem o outro extremo, quando o indivíduo só está ligado a tudo o que for físico, deixando de lado toda a sua contraparte espiritual, desses que acham que essas coisas são apenas superstição e besteira. Se tornam pessoas horríveis, avarentas, totalmente fundamentadas na matéria, gente de difícil trato. Sempre que se deparam com alguma situação que tenha aspectos espirituais ficam sem saber o que fazer, e preferem se esconder em suas vidas vazias, desconhecendo que esse apego à matéria vai ser extremamente nefasto no seu pós-morte.
         Cultivar seu lado espiritual através da prece deveria ser algo inerente à natureza e ao cotidiano de todos, mas na prática isso não é assim. Mas deixemos de lado essas pessoas que fizeram essa opção de vida e vamos cuidar do nosso caso, pois que somos pessoas que tem essa preocupação com a espiritualidade.
         Orar não é apenas aquele ato mecânico de repetir uma fórmula. Nem tampouco é conversar consigo mesmo ou mesmo apenas elevar o pensamento.  Orar é um ato de comunhão com o Todo. A Oração é a própria essência do Religare , é estabelecer uma conexão com a Fonte, é criar um vínculo com o Poder Maior, ainda que essa oração seja na intenção de um santo ou alguma divindade assim.  É que o ato de orar nos põe em estado de contato com a transcendência, de maneira que seja com Deus, um santo ou uma divindade o que importa é ter esse vínculo com o transcendental. Na oração buscamos uma aproximação com o Poder Maior e dessa forma nosso lado espiritual é cultivado, e não são necessárias grandes sessões de oração, nem tampouco uma demanda de muitas horas de introspecção religiosa :  uma prece bem direcionada, ainda que curta, surtirá um efeito muito maior que uma longa sessão de uma prece mal-feita ou conduzida de maneira deficiente.  Vamos orar quando dispusermos de todos aqueles itens da equação que mencionei, de modo que se não tivermos condição de orar naquele momento o ideal é que se faça isso em outra ocasião mais propícia.
          Mencionei isso porque há pessoas que, conforme elas mesmas me relataram, estabeleceram uma metodologia na qual tem um horário específico diariamente onde interrompem o que estão fazendo e então fazem suas orações, mas notei que para algumas faltava a flexibilidade e a sensibilidade de reconhecer que nem sempre isso dará certo porque necessariamente teremos algumas ocasiões em que não dá ou não é conveniente interromper o que estamos fazendo.  Em suma, consideremos que embora até seja interessante ter essa regularidade não podemos, a nenhum pretexto, ficarmos reféns de um procedimento pois que no presente caso isso nos acarretaria um estado de preocupação e tensão por termos interrompido algo importante.  Longe de nos proporcionar a paz, isso nos traria apreensão, então o que se recomenda é que podemos ter essa regularidade desde que ela comporte a flexibilidade de uma alteração quando isso for necessário. A pessoa que leva sua vida mundana ( mundana no sentido de  “no mundo” , secular ) não pode ter aquela estrita observância de horários fixos para orações como se pode ter quando a pessoa está inserida no contexto de uma vida monástica.
         Algumas pessoas que fazem parte da elite espiritual da Terra escreveram coisas muito interessantes a respeito da oração. Por exemplo :

 

Santo Agostinho :

 

 “ A prática da oração nos dá a fé de que seja ouvida na Cidade de Deus e contribua para a chegada da Jerusalém Celeste.” – A Cidade de Deus



                       

Santo Inácio de Loiola :

 

A oração, bem entendido, é um colóquio :  um colóquio é um diálogo, portanto o que ora está dialogando com Deus.”  – Exercícios Espirituais

 

 

Mestre Dukhatt , da Ordem de Arganthus :

 

É no ato de orar que o espírito exerce sua humildade e busca o Poder Maior na certeza de um amparo, como o filho busca a casa de seu pai com a certeza de um acolhimento.” – Humanae  Interleges

 

 

São João da Cruz :

 

Em todas as nossas aflições, tribulações e dificuldades, não existe para nós outro apoio maior e mais seguro do que a oração e a esperança de que o Senhor proverá a tudo pelos meios que Lhe aprouver.” – Subida do Monte Carmelo, livro 2 (21,5)

 

 

São Tomás de Aquino :

 

É nesse caminho sobrenatural (a oração) que a alma busca , ainda que por breve instante, uma vez mais banhar-se na luz daquele Manancial de onde deriva.” – Summa Teologica

 

 

 

 

Santa Teresa de Ávila :

 

São muitos os efeitos desta oração ; direi alguns. Mas falarei primeiro de outra maneira de oração, que quase sempre começa antes da que tratamos. Como já a abordei em outras partes, não me estenderei sobre o assunto.
” Trata-se de um recolhimento que também me parece sobrenatural, porque não consiste em ficar às escuras ou em fechar os olhos, nem em coisa alguma exterior, muito embora, involuntariamente se fechem os olhos e se deseje solidão. Sem artifícios humanos parece que se vai construindo o edifício para a oração a que me referi. Os nossos sentidos e as coisas exteriores parecem ir perdendo seus direitos, ao passo que a alma vai recuperando os seus, que havia perdido.

“ Dizem que a alma entra em si ; outras vezes, que “se eleva acima de si”. Com essa linguagem não saberei esclarecer nada, pois tenho esse defeito: pensar que dizendo as coisas como sei, me dou a entender, quando talvez elas só estejam claras para mim.


                            ( ... )

 

Por ter tratado da oração de recolhimento, deixei para depois os efeitos ou sinais que se observam nas almas a quem Deus Nosso Senhor dá esta oração. Percebe-se claramente uma dilatação ou alargamento da alma, tal como se a água que escorre de uma fonte não tivesse para onde dirigir-se, mas a própria fonte fosse de forma tal que, quanto mais água corresse, maior ela se tornasse. Assim parece acontecer nesta oração. Verificam-se também muitas outras maravilhas que Deus opera na alma, com a finalidade de ir capacitando-a e dispondo-a a nela depositar tudo o que puder.” – O Castelo Interior  ( Quarta Morada)



 

 

 

Por fim mas não menos importante temos o caso de São Francisco de Assis. Nos parece, analisando sua biografia, que todas as suas atitudes por si só eram um ato de oração pois que tinha sua vida inteiramente consagrada à Deus e é difícil encontrar alguma ação sua que não parecesse um ato realizado após muita oração buscando a orientação divina.

A Oração de São Francisco é uma obra de arte, bem como o seu Cântico das Criaturas no qual se coloca na condição de irmão de todas as coisas e seres, inclusive do “Irmão sol”  e da “Irmã Lua”. Esses escritos tem em si algo um pouco mais profundo do que é encontrado pelo vulgo, pois que há ali determinadas coisas que tem um significado mais revelador do que parece à primeira vista, necessitando, então, serem lidas nas entrelinhas.

São Francisco  teve um biógrafo, um irmão da Ordem franciscana que reuniu e relatou muitas coisas a respeito da vida do santo. Algumas a título de curiosidade, outras como revelações, mas todas muito interessantes, e esse irmão franciscano, que é São Boaventura, no capítulo 10 da sua obra Legenda Maior assim escreveu a respeito da relação do santo com a prática da oração :

 

“ 3. Francisco havia percebido na oração a presença do Espírito Santo, tanto mais propenso a derramar-se sobre os que o invocam quanto mais apartados os encontra do estrépito das coisas mundanas. Por isso, procurava lugares solitários, e durante a noite retirava-se aos bosques e igrejas abandonadas para se entregar à oração. E aí na solidão, sustentou freqüentes lutas com os demônios, os quais, atacando-o de modo palpável, procuravam apartá-lo do exercício da oração. Mas ele, fortalecido com o auxílio do céu, quanto mais violentos os ataques do inimigo, tanto mais sólido parecia na virtude e mais fervoroso na oração, dizendo cheio de confiança a Cristo as palavras do salmista : “Defendei-me, Senhor, sob a sombra de Vossas asas, da presença daqueles que me encheram de aflição” ( Salmo 16,8 ).   E dirigindo-se depois aos demônios dizia-lhes : “Espíritos malignos e perversos, atormentai-me quanto puderdes, pois nunca podereis mais do que aquilo que vos concede a mão do Senhor. De minha parte estou disposto a sofrer com sumo gozo quanto queira Ele consentir-vos”.    E não podendo os demônios suportar tão admirável constância, fugiam cobertos de confusão. “ – Legenda Maior  ( São Boaventura )

 

 

( ... )

 

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