ã Mago Daniel de Ávila
Em uma noite
de íntima solidão,
minha aliada tão algoz
revia minha vida,
das glórias e do sentimento atroz.
Matéria fatigável, esse corpo grosseiro
a mente desejando mas ele vai cedendo
resistências quebradas, se entrega por inteiro
aos braços de Morfeu, já me envolvendo.
Ó, arrebatadora força
sem explicação plausível encontrada
o que era um , dois agora é tornado
matéria física repousando abaixo,
corpo de luz sobre ela projetado
luz viva projetada em facho
à sua frente se abre celeste estrada.
Segue a Humana Alma
para trás deixando a terrena casa
voa, mas sem asa
leveza de um espírito de soberana calma.
Chega a um celeste altiplano,
paisagens na Terra inexistentes,
formas belas, formoso mundo
verdadeiro Éden de águas reluzentes.
Habitado é este lugar,
povoado de divina criação,
formas de beleza sem par,
mas que Humanas Almas também são.
Que mundo será este ?
Tão etéreo, mas pleno ao mesmo tempo
matéria não mais se corrompe
nem é ferido o sentimento.
Um nome, em língua humana não tem
mas a Alma o chama "do meu Pai a casa é"
a palavra defini-lo não pode
e nem o tenta a Alma mergulhada em fé.
À descrição dos Campos Elíseos
este lugar parece ter afinidade
se na Terra lugar semelhante existisse
De Paraíso não haveria necessidade.
De súbito percebo algo,
algo tenho que aquelas Almas não tem:
um fio de prata que sai de mim
e do campo de visão se perde além.
Tanta paz e serenidade ali encontro
ficar ali meu desejo é agora
se for possível ali para sempre ficar
porque iria querer uma Alma ir embora ?
Mas um excelso ser de mim se aproxima,
chega perto de onde estou ;
tanta pureza nele se encontra
que remorsos sinto de ser o que sou.
Sem usar palavras consegue me dizer
que minha hora não é chegada ainda
retornar se faz necessário agora
tempo de realidade, a visita é finda.
Mas diz que dali toda Alma provém
e para lá toda Alma regressa.
Terminar a missão na Terra convém
e a esse retorno não é preciso ter pressa.
Me diz que depois desta vem outras,
é apenas uma visita que encerra
mas que, vivo e retornando sou ainda visitante
pois até o desenlace meu reino ainda é o da Terra.
Diz
"Retorna agora, doce Alma,
retorna ao denso que tu detém
dá de novo a ele a vida, agora
corpo sem Alma não se sustém
nem soou ainda a derradeira hora."
"Volta ao humano mundo
mostra a tua mortal Arte.
À divisão o momento não é fecundo
o Todo não existe sem a Parte. "
Excelsa criatura agora em mim tocou
inenarrável sensação, profundo
um abalo súbito no fio de prata
me traz de volta ao humano mundo
indizível saudade me restou.
Que terrível lamento tem a Alma que retorna
linguagem humana agora lhe parece bruta e mordaz
busca palavras mas não as encontra
descrever o que viu a língua humana não é capaz.
Paradoxo que paralelo não tem
algo sobre o que muito tenho meditado
mundo celeste, tão longe no além
ao mesmo tempo tão perto,
aqui ao lado.
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