MELANCOLIA
                                       
ã  Mago Daniel de Ávila

 

Um dia a tristeza veio me visitar
e sem pedir licença entrou.
Entrou na minha vida e no meu mundo,
que é só meu, tão secreto e tão profundo
e como visitante indesejável estórias quis contar.
Falava de amarguras permitidas,
de colheitas vãs  e lágrimas esquecidas,
de mares sem barcos e de barcos sem porto,
e sentia prazer em trazer recordações de um mundo morto.

 

E contava estórias de espuma das ondas do mar,
de nuvens dançando ao sabor de ventos frios,
e lágrimas abundantes que formam rios.
Contava sobre as  sementes não nascidas,
das glórias  que não vieram e das vitórias perdidas,
e daquilo que poderia ter vindo mas não vai chegar.
Estórias de pétalas de rosas que não mais florescem,
de sonhos que desaparecem...
Estórias de lutas e  lutos, de guerras  e vãos esforços,
de pesar por maldades feitas convidando remorsos...
De esperanças que Pandora mantém cativas em tormento
e de pássaros que não mais prestam homenagem ao vento.

 

Por fim dei um basta em visita tão atroz
e  a alma lhe pediu que fosse embora
porque a tristeza já  estava aqui dentro e não mais lá fora
-Cala-te porque já não quero mais ouvir tua voz!
E ela foi-se embora mas muita vez tentou me fazer visita :
”Nunca mais a deixes  entrar” , falou à alma a voz da Razão...

-Tristeza, sabes como ser malquista,
  mas eu aprendi a  ser mau anfitrião.

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