" Sobre uma montanha de crânios, no castelo da dor eu me sentei em um trono de sangue : eu, Vlad, o flagelo dos Cárpatos, açoite da Romênia, a angústia da Moldávia, assim escrevi. "
E
assim era Vlad Tepes, o ícone que nos vem à mente quando se fala em vampiros. Se ele era
um vampiro não se sabe, mas foi na vida dele que Bram Stocker se baseou para escrever seu
mais famoso livro, o Undead, que podemos
traduzir por morto-vivo, e que mais tarde ele mudou o nome para Drácula.
Uma curiosidade editorial foi que Bram Stocker descreveu no livro onde era o
castelo de Drácula, fazendo uma descrição pormenorizada da
região : ocorre que a descrição era exata nos mínimos detalhes, e isso
surpreendeu o próprio Stocker que assegurou a até sua morte que imaginou a paisagem que
descreveu.
Bram
Stocker se sentiu atraído pela história daquele homem de extrema crueldade mas de um
nacionalismo extremo. E retratou em Drácula a figura do aristocrata, nobre e cruel.
A
história de Vlad Tepes é cheia de atrocidades, sendo a mais memorável a sua mania de
empalar seus inimigos. Os prisioneiros de guerra eram todos empalados, e atualmente a
empalação é uma arte perdida : as pessoas eram espetadas em estacas que
entravam no ânus e saiam na boca. Ele não aceitava que a estaca saísse em outra
parte que não a boca, e na sua corte havia um Grande Oficial que tinha o título de
Mestre Empalador. E houve um episódio em que após uma batalha (na Idade Média)
ela mandou empalar grande número de seus inimigos e no meio das estacas mandou preparar um
banquete. Ele recolhia o sangue e comia com pão. Em dado momento um de seus
generais levantou-se e disse que se recusava a comer no meio de tanto mau-cheiro :
Vlad mandou empalar esse homem e colocá-lo em uma estaca mais alta que as outras dizendo
que lá em cima o cheiro estava melhor. Em outra ocasião ele recebeu na corte um
embaixador árabe que se recusou a tirar o turbante em sua presença alegando ser contra
seus preceitos religiosos, e ele mandou pregar o turbante na cabeça do embaixador,
dizendo que era para que nunca a religião fosse desrespeitada por acidente. A
história também registra outras coisas pitorescas ; diz que ele gostava de comprar
produtos estrangeiros, principalmente objetos de arte, mas primava pela honestidade e
certa ocasião um mercador lhe trouxe objetos raros que lhe vendeu por cem moedas de ouro. Já
na estrada para ir embora, o mercador contou as moedas e notou que haviam 101, e voltou
para devolver a moeda a mais. Lá chegando, Vlad lhe disse que havia colocado uma moeda a mais para
testá-lo e se ele não devolvesse seria apenas mais um ladrão e
não conseguiria sair com vida do reino. Também é memorável o caso da taça de ouro : Em uma cachoeira na vila que ficava aos pés do
castelo ele colocou uma taça de ouro cravejada de rubis em cima de uma pedra :
enquanto Vlad viveu ninguém jamais roubou a taça.
Tecnicamente um vampiro é um morto-vivo que se alimenta do sangue fresco de suas
vítimas. Uma criatura noturna que busca suas vítimas entre as sombras. Uma figura que
retrata um vampiro seria esta:
A tradição que trata dos vampiros tem coisas que não são reais e coisas que
realmente fazem parte dos relatos. Por exemplo, é verdade que eles tem aversão ao
alho, não pelo alho em si mas pelos princípios ativos contidos no alho que lhe causam
choque anafilático. Também faz parte das tradições que para matá-lo deve-se
cravar uma estaca de madeira no coração, mas na verdade a estaca deve atravessá-lo e
prendê-lo no chão, e então deve ser queimado. É lenda essa estória de que uma
estaca no coração e ele vira pó.
Outra coisa
que é meia-verdade : o vampiro realmente evita a luz do sol, mas ela não o mata.
Na luz do sol ele não tem nenhum poder e se sente fraco, mas não morre por causa
disto. Durante o dia ele apenas não é tão poderoso como é à noite. Também não
é todo mundo que é mordido por um vampiro que se torna vampiro : só se tornam aqueles
que ele permite e para isto ele deixará que essa vítima beba um pouco de seu sangue.
E muitos relatos dão conta de que tem o poder de transformar-se em animais,
notadamente morcego e lobo. Um dado que normalmente não é passado: um vampiro,
após atacar uma vítima, normalmente fica cerca de 30 dias sem precisar atacar mais
ninguém. É lenda isso de que ele sai todas as noites buscando sangue. Se
fizesse isto se arriscaria a ser descoberto.
Mas de todas as bobagens que se escreveram a respeito desses seres fantásticos a maior é
aquela que diz que ele foge do crucifixo. Isso é uma fantasia hollywodiana
que só seria verdade se esse vampiro fosse cristão, o que seria uma contradição.
Mas vampiros não são criaturas do demônio ou vindas do inferno, são seres que
tiveram uma evolução diferente, e por isso não vão temer nenhum símbolo
religioso, principalmente porque para eles as religiões são uma abstração.
Aqui vamos fazer um esclarecimento que parece pertinente. Existem vampiros.
Refiro-me ao vampiro hematófago. Eles existem, circulam entre nós e essa
coexistência é bastante antiga. Mas embora usem nosso sangue para sobreviver
raramente usam de mordidas, que para eles é um tipo de selvageria, como para nós
seria se dispensássemos talheres e passássemos a comer com as mãos. Os
vampiros hoje extraem o sangue de sua vítima usando instrumentos apropriados,
mas é muito, muito raro que algum deles hoje morda a vítima, embora isso
aconteça. Na arcada dentária superior, atrás dos dentes da frente aparecem dois
dentes frontais, que são retráteis e só se armam quando necessário. Os
dentes que usam para perfurar as veias são os da frente e não os caninos, que
seriam totalmente inadequados para isso. Portanto, não se confunda, pois
que os dentes dos vampiros não são como os do Drácula e sim como os do Nosferatu,
ou seja, dentes da frente e não das laterais.
Eles tem uma força física superior à nossa e também sua expectativa de
vida é bem superior à do ser humano comum. O envelhecimento físico também não é
um problema para eles porque mesmo com o passar das décadas sua aparência física
muda muito pouco. Porém, deve ficar esclarecido que eles mesmos reconhecem que
não há nada de desejável nem de glamuroso depender do sangue fresco de outros
seres para poder sobreviver, e tanto pior que o sangue mais adequado ás suas
necessidades seja o sangue humano, embora eles também façam uso do sangue de
animais, mas que não lhes supre a totalidade das suas especificações
nutricionais. Por isso, para eles, o ato de transmutar um ser humano em
vampiro é algo que requer a aprovação dos dirigentes de seu clã. Vampiros
se unem em grupos, a que chamam Casas e Clãs, com uma relação hierárquica bem
definida e é somente com a aprovação do clã que pode haver uma transmutação de
um humano. Se houver uma transmutação não autorizada o vampiro que a fez é
severamente punido e o humano transmutado é destruído, mas eles não revelam em
que consiste a punição nem como é feita a destruição do transmutado, embora
garantam que isso acontece - raramente - e por isso eles tem já preparados os
procedimentos para quando isso ocorre.
Estar na presença de uma criatura dessas causa uma sensação de opressão, mesmo
quando não se sabe de quem se trata. Olham sempre de forma muito profunda, como
se observassem algo dentro da pessoa. Falam pouco, são muito reservados e evitam
qualquer conversa sem propósito. Mas sua força se concentra nos olhos, pois é um
olhar muito singular, cheio de significados e sempre perturbador. Só quem já
esteve na presença de um deles saberia do que estou falando.