I I I Parte
Aqui Aristóteles faz uma constatação a respeito da composição da natureza humana :
"
Parece haver também na alma um outro elemento irracional que, porém, em certo
sentido, participa da razão. De fato, louvamos o princípio racional do homem
continente tanto quanto o do homem destituído de continência, assim como a parte
da alma de ambos que tem tal princípio, pois ela os impele na direção certa e
para os melhores objetivos : mas neles igualmente se encontra um outro
elemento naturalmente oposto ao princípio racional, lutando contra este e lhe
oferecendo resistência. Com efeito, exatamente como os membros paralisados se
voltam para a esquerda quando pretendíamos movê-los para a direita, a mesma
coisa sucede na alma : os impulsos dos incontinentes atuam em direções
contrárias. Mas ao passo que, no corpo vemos aquilo que desvia da direção certa,
no caso da alma não o podemos ver.
" De qualquer forma, não podemos duvidar que na alma exista um elemento
contrário ao princípio racional, que lhe resiste e opõe. (...) Por
conseqüência, o elemento irracional parece ser duplo. "
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Aqui o Mestre Aristóteles alude à dicotomia Bem - Mal existente na natureza
humana, e ainda investiga sobre a
possibilidade desse
elemento irracional ( o Mal ) estar em quantidade maior.
Ao Mal ele se refere
como "princípio irracional" pois no seu entendimento o Mal contido na natureza
humana seria como um tipo de loucura, uma ausência de razão, que leva o homem a
realizar as coisas mais desprezíveis e deploráveis em nome das justificativas
mais esdrúxulas, e isso quando apresenta tais justificativas, pois que mormente
pode cometer seus desatinos sem sequer preocupar-se em se justificar.
A Aristóteles fascinava
observar que mesmo dentro do homem continente parece existir uma espécie de
impulso, uma tentação a praticar aquilo que é contrário ao que é correto. No
entendimento dele, isso era um tipo de loucura que poderia arrebatar ao homem
menos preparado, fazendo com que ele cometesse atos negativos quando sua idéia
inicial era de fazer coisas boas e produtivas.
Seria esse "princípio
irracional" o que hoje chamaríamos de "o Mal na alma humana". Mas note-se que
embora se refira a ele como "princípio irracional", Aristóteles já no início
diz que esse elemento parece participar da razão, o que a princípio parece
paradoxal. É irracional mas ao mesmo tempo participa da razão, no sentido de
que o homem sabe o que está fazendo, ou seja, ele tinha escolha mas cedeu a
esse princípio irracional sabendo o que estava fazendo.
Aristóteles teve o cuidado de
fazer essa observação para deixar claro que o homem não é escravo do elemento
irracional, e sim cede a ele por ter uma propensão maior a praticar o Mal do que
o Bem. É nessa escolha que reside a razâo : há escolhas e o homem optará, de
acordo com sua índole.