I I   Parte

 

                                         Aristóteles manteve a sua preocupação com a criação do homem integral  e isso foi condensado em 3 tipos de trabalhos específicos, onde então temos que em Política estão descritas as formas de governo e as relações do homem com essas formas  ;  em  Metafísica  ele descreve a natureza de Deus e as maneiras como o homem se envolve ; e em Ética ele explica a respeito da moral do homem.
                                         Então vemos que para o Mestre é preciso que esse homem integral esteja inserido na vida social da  pólis  em que vive e que nela ele seja um cidadão útil ;  é preciso que esse homem tenha um bom desenvolvimento moral,  mas também é extremamente necessário que ele tenha uma boa noção do que é a Divindade e de que maneira relacionar-se com ela, posto que Aristóteles entende que de nada adianta a esse homem ser útil à sociedade, ter um bom senso moral mas ser ignorante quanto à sua natureza espiritual.  Não seria um homem completo.
                                        O conceito aristotélico de Deus é ao mesmo tempo que complicado, admirável especialmente por causar um choque inicial em sua definição, que a princípio seria de frieza e indiferença mas  que é totalmente revestida da lógica de Aristóteles, que muitas vezes é aterradoramente direta.
                                        Segundo Aristóteles, Deus governa o Universo como um todo mas não se atém a casos particulares de suas criaturas, mesmo que se trate de um mundo inteiro.  Aí temos que :

                                        Deus não se interessa pelo mundo, embora o mundo se interesse por Deus. Pois interessar-se pelo mundo significaria sujeitar-se a uma emoção, deixar-se mover e influenciar por preces, pedidos e até imprecações, ser capaz de modificar  o próprio espírito em virtude das ações, desejos ou pensamentos alheios de suas criaturas, em suma, ser imperfeito.  Mas Deus é totalmente sem paixão, imutável, perfeito em si mesmo. "

                                          Essa visão lógica e direta do que seria Deus contrasta muito com aquela visão paternalista de um Deus-Pai que acompanha individualmente cada um dos seus filhos, e que é uma visão que tanto agrada à natureza humana, sempre desejosa de uma proteção divina, o que de certa forma castrou seu poder auto-manutenção, posto que sempre espera que uma intervenção divina venha lhe resolver os problemas ou ao menos apontar as soluções.  A visão aristotélica de Deus nos coloca à mercê de nós mesmos, e para muitos essa carga é pesada demais.  Mas o Mestre não tem pretensão de ser definitivo em sua definição e nos deixa uma frase que deixa claro que não é dele a palavra final e que outras definições podem ser levadas em conta :   "  O Ser se diz em muitos sentidos."
                                          Há quem diga que foi unicamente por causa desse conceito de um Deus distante da humanidade que Dante Alighieri colocou Aristóteles no Quarto Círculo do Inferno, na Divina Comédia.  Mas ali o Mestre está acompanhado de todos os demais grandes filósofos gregos, e na verdade é mencionado como mestre deles.  Já um outro segmento considera que a razão para Aristóteles e os filósofos estarem no Inferno é porque eles eram pagãos.  Esse quarto Círculo é um círculo que dá inicio à passagem para se chegar ao Purgatório, então Dante vê  "salvação" para o Mestre e seus pares.

 

                                                                                

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                               

 

                                                                       RETORNA                    PRÓXIMO