E S C R I T O S  -  2    

      

              Escritos  do  Mago  II

                 Aqui eu reproduzo minhas anotações a respeito de uma experiência de visão pela qual passei.   Sei que muitas pessoas não vão acreditar, mas mesmo assim relatarei. Deixo claro que se trata de uma experiência real, não uma ficção.

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                    Hoje me aconteceu algo que talvez eu não relate no meu livro porque vai parecer fantasiosa demais.
Passei a noite em Carrion de Los Condes. Levantei cedo, antes dos outros peregrinos, porque minha intenção era chegar a Terradillos de Templarios. Grande parte do caminho nesse trecho é, ou deserto ou plantações de trigo. Quando eu estava em Carrion o padre José Mariscal  falou  desse  deserto,  achei que era mais força de expressão,  mas não era.
                    Em um dado momento eu senti uma solidão terrível, como raramente senti. Tanto para frente como para trás, ou para os lados, em qualquer direção que se olhasse não havia ninguém, só plantações. Nem pássaros, nem animais, nada, só trigo.
                   De repente, do meu lado direito, no meio do campo de trigo comecei a perceber a formação de uma espécie de névoa levemente azulada, e então imagens começaram a se formar :  era uma cena fantástica, uma batalha envolvendo romanos e bárbaros.
                   Era tudo translúcido, nevoento, mas ao mesmo tempo muito real. Eu ouvia os sons dos gritos, dos comandos, do choque dos metais, dos cavalos, tudo. Toda a cena ocupava, pelo que estimei, uma vasta área. Olhei para os lados para ver se havia alguém mais para também ver aquilo, mas não vi mais ninguém. As imagens pairavam sob a plantação, e tudo ali estava em tamanho real.
                  Fui ver um pouco mais de perto, pulei uma valeta e me aproximei.  De um jeito muito curioso toda a imagem pareceu recuar na medida em que eu me aproximava. Pressenti que se eu me aproximasse mais ela poderia desaparecer e eu queria continuar vendo aquilo tudo por mais tempo.
                 Comecei a prestar atenção aos detalhes, para que eu escrevesse tudo depois, pois não queria perder nada.  Tratava-se de uma batalha envolvendo um exército romano e um exército de bárbaros. Acho que lutaram uma batalha naquele lugar onde eu estava agora. Vi os estandartes romanos, vi as águias douradas e nelas o numero 11. Tudo ali tinha um realismo tão grande que dava medo. Vi os soldados matando e morrendo naquele combate desesperado e horrível, uma carnificina de ambos os lados. Em um dado momento a cena toda mudou, não havia mais a batalha, mas o local ainda era o mesmo: vi que os romanos perderam, e havia um grande numero de soldados romanos lado a lado, ajoelhados, e os estandartes das águias romanas jogados no chão, na frente deles. Eram prisioneiros, sobreviventes. Havia um bárbaro atrás de cada soldado, e todos os outros bárbaros em volta. Eram muitos, acho que milhares. Soldados acho que haviam uns 50.  De pé haviam uns 10 romanos, que acho que deviam ser os lideres.  Um bárbaro falou alguma coisa e cada um daqueles bárbaros atrás dos soldados pegou uma espada e passou no pescoço de cada um,  degolando-os. Os lideres foram mortos um a um pelo chefe dos bárbaros. Eram tribunos, coronéis e talvez um general, a julgar pelas plumas.
                 De repente, na cena toda houve um brilho como um relâmpago e tudo desapareceu, e a névoa começou a se dissipar.
                Sentei no chão, atônito com o que tinha visto. Olhei no relógio, aquilo tudo deve ter durado uns 15 ou 20 minutos. Fiquei ali sentado, acho que por mais de meia hora, pensando em tudo aquilo. De repente alguém começou a dizer "hey, estás bien ?". Olhei e eram dois peregrinos, na estrada, me chamando.  Eu disse a eles que estava só descansando. Seguimos viagem juntos.  Paramos um pouco em Calzadilla de la Cueza. Depois seguimos mais uns 6 ou 7 quilômetros e chegamos a Ledigos, e depois a Terradillo de Templarios. Lá fomos a uma hospedaria, não um refugio, e conheci Ambrósio, o dono do lugar. Depois do jantar, conversando com ele, falei do deserto das plantações de trigo, daquela paisagem desolada, etc.,  e ele disse que seguidamente alguém contava ter visto fantasmas ali, e que aquelas plantações tinham fama de ser   "bem-assombradas" .  Achei melhor não dizer nada.

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ADENDO: depois do Caminho de Santiago, fiz um pequeno tour na Espanha, e em Avila e Toledo estive em algumas das mais completas bibliotecas de História do país. Eles valorizam muito a História da Espanha. A respeito daquilo que vi, na minha pesquisa consta que no ano 5 dC. a Décima-Primeira Legião foi enviada para render tropas estacionadas na Iria Flavia ( hoje Compostela) mas ela nunca chegou lá.  Foi emboscada no meio do Caminho e destroçada pelos bárbaros. Consta também que logo que a noticia chegou em Roma, o Imperador e o Senado ordenaram uma retaliação violentíssima, e trouxeram 4 exércitos, do Leste e do Norte, além de uma Legião, a Nona, que estava estacionada na Gália (França), com ordens de eliminar o exército bárbaro, levar as cabeças dos líderes para Roma e ordens expressas para recuperar as Águias Douradas, símbolos de uma Legião Romana. Isso foi feito, não deixaram sobreviventes e só séculos depois a província da Hispania se rebelou de novo. A destruição daquela Legião abalou o Império, porque eles nunca haviam perdido uma Legião inteira em um só combate. Assim, dali em diante o Exército Romano ficou sem mais nenhuma Legião com aquele número, 11, porque era típico dos romanos não reativarem uma Legião destruída.  Consta que as Águias foram levadas para Roma e derretidas no Templo de Marte.

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